Eventualmente, em meio à rotina, costumo revisitar alguns programas gravados do falecido Luiz Carlos Alborghetti. Comunicador paranaense de forte personalidade, Alborghetti ainda é lembrado em diversos círculos da direita brasileira. Sua atuação deixou marcas significativas — não apenas em mim, mas certamente em muitos outros brasileiros. Embora seu programa fosse profundamente ancorado na conjuntura factual da época — o que hoje o torna um retrato datado de seu tempo —, seus editoriais, por outro lado, resistem ao tempo e permanecem surpreendentemente relevantes.
Ao revisitar qualquer uma das diversas edições dos programas que Alborghetti apresentou ao longo dos anos — como Cadeia Alborghetti, Cadeia Nacional ou simplesmente Cadeia —, é impossível não ser tomado por um sentimento de indignação. Essa indignação se manifesta diante da leniência do Estado, do avanço da criminalidade e, muitas vezes, da própria natureza humana, revelada em comportamentos que beiram a barbárie.
Comparando aquele período com os dias atuais, a impressão é de que a situação, longe de melhorar, se deteriorou ainda mais. Um exemplo ocorreu recentemente na zona sul de São Paulo: um CAC (Colecionador, Atirador e Caçador), enquanto passeava com o filho, foi surpreendido por dois criminosos armados. Após quase ser alvejado, reagiu em legítima defesa e neutralizou os agressores permanentemente. Apesar disso, acabou sendo conduzido à delegacia e só foi liberado após o pagamento de fiança, devido à posse da arma.
Esse é só mais um dos inúmeros casos que fazem prevalecer a sensação de inversão de valores e deixam evidente a fragilidade do cidadão diante de um sistema jurídico que pune quem tenta se defender.
Os dois criminosos em questão já eram investigados pelo assassinato de um delegado da polícia civil ocorrido em janeiro deste ano, além de estarem possivelmente envolvidos em outros crimes, incluindo latrocínios. Diante desse histórico, é inevitável questionar: qual seria a expectativa do Estado em uma situação como essa? Que a vítima simplesmente não reagisse? Que aceitasse ser alvejada e permanecesse inerte?
A autuação do CAC, que agiu em legítima defesa e, ao fazê-lo, impediu que esses indivíduos continuassem a representar uma ameaça à sociedade, deixa claro que o Estado brasileiro, com sua burocracia soviética, é a favor dos bandidos. Afinal, que mensagem se transmite ao cidadão decente, quando este, ao reagir para proteger a própria vida e a de seu filho, é tratado como se tivesse cometido um crime?
O sistema de segurança pública no Brasil é, por si só, motivo de profunda indignação — um sentimento que ecoa em diversas regiões do país. Uma pesquisa divulgada recentemente pela Quaest revela que 85% da população compartilha a percepção de que “a polícia prende os criminosos, mas a Justiça os solta” (Quaest: 86% concordam que “polícia prende bandido, mas a Justiça solta”).
Poucos momentos na história recente foram tão propícios à indignação quanto o presente. Caso Luiz Carlos Alborghetti ainda estivesse vivo, é plausível supor que não suportaria por muito tempo o atual cenário. A realidade chegou a um ponto tal que, para muitos, a expressão popular que melhor resume a situação é: “o poste está mijando no cachorro.”
Autor: João Guilherme.